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Deixai vir a mim as criancinhas


mulher se abraçando, amor próprio

Há muitas frases atribuídas a Jesus que nos parecem enigmáticas. Tanto é assim, que há por vezes várias interpretações de um único versículo. Contam-nos as escrituras que várias crianças foram levadas a Jesus para que ele as abençoasse, mas seus discípulos procuravam afastá-las. O Mestre, por sua vez, repreendendo-os com uma lição de teor muito profundo, pede que seus discípulos as deixem passar, alegando que, se pretendem entrar no Reino dos céus, precisam seguir o exemplo desses pequeninos (Mateus 19: 13-14).


A lição é controversa, uma vez que se põe em dúvida que aspecto da personalidade das crianças deve ser imitado por nós: a pureza, a sinceridade, a capacidade de ver o mundo com alegria ou todas elas? Nunca me debrucei sobre essas palavras para ser sincero, já que sempre me pareceu haver concordância de que deveríamos imitar a pureza das crianças e, de um ponto de vista mais dogmático, sermos pessoas boas e não cometermos erros (ou pecados). No entanto, é necessário aprofundar-se num aspecto da personalidade infantil que, infelizmente, reprimimos depois de nos tornarmos adultos.


Dois episódios opostos com minha netinha de quase dois anos me levaram um pouco mais próximo do entendimento que eu buscava nessas intensas palavras do Mestre. Num primeiro momento, tomada pelo sono, ela só queria saber da avó e, quando tentei me aproximar, escondeu seu rosto num ato de protesto contra a minha presença. Algumas horas depois, enquanto passava pela sala, ela me chamou graciosamente para sentar-se ao seu lado e, com toda aquela “fofura”, me disse: “Senta aqui, vovô... assistir”. Eram palavras de um amor tão puro, que até me emocionaram.


Fiquei refletindo sobre seu comportamento e comecei a compreender que as atitudes das crianças não são carregadas de emoções oriundas do EGO. Elas simplesmente dizem o que é preciso e agem sem julgamentos. É uma postura de sobrevivência, é verdade! Mas não foi isso que me chamou a atenção no episódio acima. Em nenhum momento, uma criança age em função do outro. Ela muda sua atitude pelo que está sentindo, age pelo coração. Infelizmente, isso muda a partir do momento em que aqueles que a tutelam exigem dela atitudes baseadas numa referência externa.


Isso ficou mais evidente quando uma cliente minha relatou que passou sua vida toda buscando agradar aos que a rodeavam e acabou anulando-se, basicamente com medo de perder essas pessoas. Com um pouco mais de 40 anos — quando resolveu buscar ajuda na terapia — começou a fortalecer seu EU VERDADEIRO e assumir seu papel no mundo. Depois que começou a agir de acordo com o seu coração, passou a ser mais feliz, embora essa nova postura estivesse assustando as pessoas de sua convivência, inclusive aquelas mais próximas. Aí, inicia-se um novo desafio...


No meu livro “Não seja bonzinho... e comerá a sobremesa” (E-book – Amazon), discuto a necessidade criada pelas instituições, como a família, a religião e a escola, de nos educar para nos adequarmos à sociedade e, por isso, agirmos dentro dos padrões que ela nos impõe. Podemos dizer que deixamos de ser nós mesmos quando crescemos? Sim! Aquela criança que agia pelo coração, agora fora engolida pela Matrix, um mundo pautado pelas aparências e pelo consumismo. Nosso EU VERDADEIRO dá lugar a um falso eu, que segue aquilo que nossa Mente — insegura e egoísta — nos sugere.


Isso tem início desde a infância, visto que os pais começam a impor seus padrões aos filhos, sufocando sua personalidade. Não defendo uma educação libertária, mas é preciso respeitar a individualidade que as crianças trazem consigo. Para não desagradar aos pais e à sociedade, os filhos tendem a se encaixar nesses padrões, o que é reforçado pela escola, que não estimula os alunos a se posicionarem diante do mundo. Para piorar, as religiões sobrecarregam essas crianças de culpas e remorsos, usando da figura de um Ser supremo austero e vingativo.


Essa é uma receita que mantém os cidadãos sobre controle e os desestimula a agir com base em seus propósitos mais puros e verdadeiros. Nossas memórias — repletas de regras repressoras — nos limitam ao mais do mesmo. Todos perdem com isso, sobretudo nosso Planeta, que vê seus recursos se exaurirem porque seus habitantes estão mais preocupados em manter as aparências do que sua saúde mental. Deixam de buscar uma religação com o Todo, limitando-se a viver num mundo com foco no exterior e no materialismo, um mundo de preconceito e intolerância.


Desse modo, a maior lição de todas ensinada pelas crianças — no meu singelo ponto de vista — é ser quem elas são, sem melindres ou culpas. Quando nos tornamos adultos, temos regras a seguir, é óbvio. Não jogaremos a comida no chão quando não quisermos comer, mas, seguindo o modelo dos pequeninos, não comeremos aquilo que os outros querem somente para agradá-los. As pessoas demoram a se acostumar com pessoas verdadeiras, mas, com o tempo, aprendem a nutrir um sólido respeito por elas.


Enfim, precisamos começar a recuperar nosso EU VERDADEIRO e parar de nos esconder atrás de máscaras. Agir como as crianças é agir pelo coração, inspirado pelas energias do Universo. O mundo precisa de mudanças radicais na relação entre as pessoas e a natureza. Jesus sabia exatamente o que aconteceria se não cultivássemos o amor e a alegria dos pequeninos, por isso nos alertou, como fez o tempo todo, para a necessidade de buscar-se o autoconhecimento a fim de encontrarmos a harmonia e o equilíbrio numa época tão delicada como esta.



 

Sobre o autor: 
Professor, Neuroeducador, Master Practitioner em PNL e Coaching de vida –é fundador, junto de sua esposa, Sílvia Reze, 
do Instituto Recomece. 
 

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